segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Interlúdio

    Entrei. A pequena porta, embora fechada, veio me convidando. Minha cabeça estava cheia, assim como o ambiente. Sentei-me. Pessoas ao meu lado, com o olhar parado, sorviam a fumaça inebriante dos cigarros e bebiam o líquido dormente.
    Do outro lado do balcão, chegou um copo, com  leve presteza: o sorriso fugia dos lábios do garçon para se refugiar em seus olhos. COMPROMISSOS, COMPROMISSOS ... A vida é toda preenchida, não resta um buraquinho, um espaçozinho, no mundo atual. Ao lado, um semelhante me contava anedotas para enganar nossas convicções inquisidoras. Com o verbo carregado pelo bafo etéreo, ele sorria escandalosamente enquanto o olhar  triste reclamava.
    Outro copo me chegava à mão. Eu já ia me despedindo da claridade claustrofóbica, da minha rotina diária. E de repente, viisualizava a todos:  tão ingênuos, tão inocentes! Todavia, a garrrafa caiu. quebrou-se na mesa próxima, fez-se em mil pedacinhos, tão pequenininhos, invisíveis. O senhor ao lado sangrava, pois um caco impertinete tocou com firmeza a sua mão. A visão foi tão lenta e enternecida! Aquele homem achou bela a cena que se estampara em sua frente: "foi no ímpeto de encher o copo, e o suor da garrafa venceu seu habitual, porém não hábil movimento... Então, ela está estatelada no chão, brusca e impaciente às melancolias; farta do rítmo constante do dia". Já éra noite! Sôfrega, a mão se abaixou para acariciar o líquido perdido, precioso, corrompido. O cheiro derramado embriagou o soluço do amigo.
    No deslisar dos dedos sobre a garrafa, um caco sinuoso penetrou na carne adormecida. Foi o suficiente para provocar o desapontamento da vermelha embriaguez. O homem levantou-se de seu lúgubre interlúdio. descompassado, foi embora cambaleando. Mas convicto, na reta direção de casa. E assim quis de novo, encontra-se no exercício habitual dos acontecimentos.